No artigo anterior aprendemos a experiência do que é estar num processo de Loop. Todas as sensações internas de confusão mental, pensamentos perdidos na nossa mente sem parar, sensação de vazio, parece que nada faz sentido, a nossa mente navega entre o passado, trazendo uma tristeza profunda, e o futuro trazendo medo, preocupação, desconforto e ansiedade, pois tudo parece demasiado e não é possível ver uma saída para a situação.
Para piorar, tudo à volta é uma projeção do que estamos a sentir.
Ninguém se lembra da última vez que cuidou de si, que tratou da roupa, que fez uma refeição em condições, que organizou a casa, ou até “destralhar” o que já não precisa. Tudo parece ser um peso que reforça o estado de espírito atual.
Identificamos o quanto é difícil tomar consciência de que estamos a passar por isto. Existem vários fatores que dificultam o reconhecer que ‘é isto que me está a acontecer’.
Primeiro existe a falta de referências, algumas pessoas nunca passaram por situações difíceis (e ainda bem, nem toda a gente tem uma vida carregada de dor e trauma) e ficam sem saber o que lhes está a acontecer.
Será que é normal? Será que é só a mim que me acontece? Serei eu um fracasso por não ter dado certo? Ou não ter impedido isso de acontecer?
Depois vem, a culpa e a vergonha, é nos incutido desde cedo uma visão de que “falhar” é vergonhoso. Se “falhar” fosse visto como algo positivo, pois dá-nos a oportunidade de aprender e com isso só nos torna “melhores”, aprenderíamos a procurar soluções e a valorizar muito mais as nossas capacidades.
E o medo de repetir, associado a não digerir as emoções? É outra grande dificuldade. Isto provoca o que chamamos de trauma, ou seja, registramos em nós que x + x = y e evitamos a todo o custo. Por exemplo, se eu estive numa relação que não correu bem e terminou em sofrimento.
Se eu não perceber o que é que aprendi com aquela relação, porque é que não fui compatível com aquela pessoa e as razões que levaram a acabar. Vou evitar a todo o custo uma nova relação, pois o meu cérebro agora associa que estar numa relação equivale a voltar a sofrer.
Não existe falhar repetidamente, existe uma aprendizagem constante com várias pessoas e em várias situações. O que é que os atletas bem sucedidos fazem para ter sucesso? Treinam constantemente e ajustam este treino aos seus objetivos.
Há uma quebra entre a parte mais “primitiva/instintiva” e a parte racional do nosso cérebro. Perante isto, é difícil fazer sentido e termos o comando sobre as nossas ações. Num momento inicial, é muito difícil reconhecer e conseguir sair deste processo sozinho. Requer algum treino e aprendizagem.
Pedir ajuda, ter alguém que nos avisa que estamos a entrar neste circuito e que aprendeu a nos ajudar a sair dele.
Testar e reconhecer técnicas para perceber o que é que funciona consigo. Existem inúmeras técnicas para sair destes processos, a mesma técnica não é útil para toda a gente e mesmo que funcione uma vez, noutro momento pode não funcionar.
É preciso ir tentando até resultar. É importante tê-las como uma caixa de ferramentas, sempre à mão e ir à procura da mais apropriada naquele momento.
Reconhecer cada vez mais cedo o processo. É como se descesse um poço. Então quanto melhor compreender como funciona o processo e os sinais de que está a caminho do poço e a descê-lo, mais facilmente consegue regredir e escolher outro caminho.
Para isso é importante conhecer o processo, identificar os passos, conhecer as técnicas, falar com outras pessoas que estejam a passar pelo mesmo e começar a agir o mais cedo possível.
Saber o que ativa e ter atenção a esses “triggers”. Certamente já ouviu as histórias das pessoas que vão para a guerra e depois quando regressam, perante certos barulhos desencadeiam comportamentos como se estivessem no local.
Com estas situações há acontecimentos semelhantes, que são ativados através dos sentidos. Por exemplo, ao sentir o cheiro de um perfume que era o mesmo que o seu namorado(a) utilizava, há uma ativação imediata de lembranças e recordações, e inicia-se uma viagem ao passado. O mais comum é ir buscar as memórias mais dolorosas e recordar a perda.
Quando isto acontece é preciso mudar o “interruptor” do mau para as memórias boas, perceber que fica a saudade. Ter quase uma seleção de memórias boas que a vão fazer rir e sair do mau momento.
Depois disso focar no momento presente, pois está num processo de mudança para se sentir bem consigo e tem novos objetivos para o seu futuro.
E nesse futuro, terá outras pessoas que preencherão o seu coração da mesma forma.